domingo, abril 23, 2006

Trocando figurinhas - Depoimento de um viciado


Admitir que se tem um problema é o primeiro passo para obter a cura


Eu não lembro quem foi o gênio que deu a brilhante idéia de colecionar o álbum de figurinhas da Copa do Mundo de 2006. Maldita idéia. Em menos de uma semana já fiquei viciado em comprar figurinhas. Só nos dois primeiros dias uma fortuna já foi gasta. O nome do desgraçado eu não consigo lembrar, mas os argumentos para me convencer a iniciar a coleção ah isso eu lembro muito bem e até fiz uso deles para atrair mais adeptos. A idéia de voltar aos tempos de infância, de brincar de bafo, de ficar fazendo negócio de compra, venda e troca de figurinhas, e a emoção de conseguir completar o álbum mexeram comigo e acabei por aderir à moda.

Mas se a vida fosse igual ao “Efeito Borboleta” ou eu fosse amigo do doutor Brown, com certeza eu voltaria no tempo para evitar que eu mesmo iniciasse ou despertasse qualquer interesse por esta mania aparentemente legal, que na verdade trata-se de um vício maldito.

No inicio é tudo uma maravilha. A emoção de colar a primeira figurinha é algo inexplicável. A cada novo pacote aberto vem a expectativa acompanhada da alegria de se tirar um craque, um ídolo ou uma figurinha brilhante. Porém, com o passar do tempo e com o aumento de pacotinhos comprados o encanto vai se desfazendo. Começa então a aparecer as sem vergonhas figurinhas repetidas, uma atrás da outra.

A principio elas nem atrapalham tanto.Você faz inúmeras trocas com seus amigos e também com desconhecidos. Conforme se vai trocando o número de repetidas vai acabando e ai há a necessidade de comprar mais. No início você reluta, fica só na base do troca-troca. Mas um dia você passa em frente a uma banca de jornal e sua mão começa a coçar. Aí a coisa começa a complicar.

Na ânsia por figurinhas inéditas você compra, compra e compra mais um pouco de pacotinhos.Lá se vai o dinheiro da passagem, do lanche, do almoço e em casos mais graves até o sagrado dinheiro da cerveja vira figurinha.

Neste ponto crítico eu ainda não me encontro, mas tenho de confessar que estou quase chegando lá. Na busca desesperada para sustentar meu vício já revirei a casa inteira atrás de moedas e notas perdidas. Aparelhos eletrônicos, roupas e até um terreno em Saquarema já foram revertidos em figurinhas. Tive até que pegar empréstimos no banco para saldar dívidas com donos de bancas de jornal.

Fazendo as contas já gastei o orçamento de um filme (que poderia ser o meu primeiro) e o dinheiro de um apartamento duplex na Lagoa. Ás vezes, penso que se não fosse pelo vício nas figurinhas eu já teria alcançado minha independência financeira.

sexta-feira, abril 21, 2006


MEU FILHO É... “EMO”?!?!?!?!?!?

Tive um filho muito cedo, nem tinha chegado aos 20. Minha esposa então, mais nova ainda. Foi um daqueles acidentes, nesse caso um grande acidente, que acontecem quando você é jovem. Posso dizer que ele não puxou a mim, não é louco obsessivo por música como o pai, até gosta, mas não é de ficar comprando cds ou baixando mp3s compulsivamente. Mesmo não tendo todo esse amor, sempre quando olho, alguns cds não estão na minha prateleira. Coisas como, Stones, Nirvana, Beatles, geralmente os mais populares.

Há poucos dias completou 15 anos, cresceu rápido, do nada deu uma esticada. Dia desses, cheguei do trabalho e fui ouvir música, estranhei porque meus cds estavam todos no lugar, coisa rara de se acontecer. O dia amanheceu num calor de rachar, foi então que meu filho apareceu, todo vestido de preto, calça, camiseta, tudo preto. Estranhei, ele sempre fez o estilo skatista, com bermudões e bonés coloridos. No dia seguinte lá estava ele, mais preto ainda, e agora, com um lápis preto daqueles de mulher nos olhos. Pensei: “Que merda é essa?”. Depois de mais alguns dias, atendi ao telefone, era o Pedro, amigo de infância dele. Percebi que na hora de se despedir, ao invés de um “valeu”, “tchau” ou “falou”, ele disse “beijo”. Como assim “beijo”? Pro Pedro? Fiquei preocupado, meu filho, gay? Não que eu tenha algo contra, mas de qualquer maneira é uma coisa com que se preocupar. Refleti um pouco e vi que não era possível, o tinha deixado no shopping um dia antes, e enquanto tentava sair da vaga com o carro, o vi encontrando e beijando uma menininha. Gay ele não tinha virado.

Os dias foram passando, o preto foi se combinando com o rosa, as sombras nos olhos aumentaram. Minha esposa me disse que ele estava andando pelos cantos, ficava horas sozinho, às vezes até chorava. Meus cds foram substituídos por outros, coisas como: My Chemical Romance, Fall Out Boy, Simple Plan, só pra citar AS que eu já tinha ouvido falar. Estava no dentista, peguei uma daquelas revistas semanais, não lembro qual, vi que tinha uma reportagem sobre uma nova moda que estava fazendo sucesso entre os adolescentes, o tal do “emo”. Li a matéria, achei muito estranhas as atitudes, gostos e ações dos tais “emos”. No fim percebi que meu filho tinha se tornado um “emo”. Como assim? Meu filho é um... “emo”?!?!?! De uma hora pra outra? Fiquei preocupado na hora, mas depois de um tempo olhei de novo para a palavra moda. Se é moda então quer dizer que vai passar. Pensei, são todos crianças ainda, 14, 15 anos, é muita vida pela frente. Franjinha pro lado, unhas e sombras pretas? Creio que seja passageiro, talvez daqui a um tempo meu filho passe a ouvir Clash, Radiohead, The Who ou até mesmo Smiths. A adolescência é cheia de modas, quem sou eu pra condenar?