Trocando figurinhas - Depoimento de um viciado

Admitir que se tem um problema é o primeiro passo para obter a cura
Eu não lembro quem foi o gênio que deu a brilhante idéia de colecionar o álbum de figurinhas da Copa do Mundo de 2006. Maldita idéia. Em menos de uma semana já fiquei viciado em comprar figurinhas. Só nos dois primeiros dias uma fortuna já foi gasta. O nome do desgraçado eu não consigo lembrar, mas os argumentos para me convencer a iniciar a coleção ah isso eu lembro muito bem e até fiz uso deles para atrair mais adeptos. A idéia de voltar aos tempos de infância, de brincar de bafo, de ficar fazendo negócio de compra, venda e troca de figurinhas, e a emoção de conseguir completar o álbum mexeram comigo e acabei por aderir à moda.
Mas se a vida fosse igual ao “Efeito Borboleta” ou eu fosse amigo do doutor Brown, com certeza eu voltaria no tempo para evitar que eu mesmo iniciasse ou despertasse qualquer interesse por esta mania aparentemente legal, que na verdade trata-se de um vício maldito.
No inicio é tudo uma maravilha. A emoção de colar a primeira figurinha é algo inexplicável. A cada novo pacote aberto vem a expectativa acompanhada da alegria de se tirar um craque, um ídolo ou uma figurinha brilhante. Porém, com o passar do tempo e com o aumento de pacotinhos comprados o encanto vai se desfazendo. Começa então a aparecer as sem vergonhas figurinhas repetidas, uma atrás da outra.
A principio elas nem atrapalham tanto.Você faz inúmeras trocas com seus amigos e também com desconhecidos. Conforme se vai trocando o número de repetidas vai acabando e ai há a necessidade de comprar mais. No início você reluta, fica só na base do troca-troca. Mas um dia você passa em frente a uma banca de jornal e sua mão começa a coçar. Aí a coisa começa a complicar.
Na ânsia por figurinhas inéditas você compra, compra e compra mais um pouco de pacotinhos.Lá se vai o dinheiro da passagem, do lanche, do almoço e em casos mais graves até o sagrado dinheiro da cerveja vira figurinha.
Neste ponto crítico eu ainda não me encontro, mas tenho de confessar que estou quase chegando lá. Na busca desesperada para sustentar meu vício já revirei a casa inteira atrás de moedas e notas perdidas. Aparelhos eletrônicos, roupas e até um terreno em Saquarema já foram revertidos em figurinhas. Tive até que pegar empréstimos no banco para saldar dívidas com donos de bancas de jornal.
Fazendo as contas já gastei o orçamento de um filme (que poderia ser o meu primeiro) e o dinheiro de um apartamento duplex na Lagoa. Ás vezes, penso que se não fosse pelo vício nas figurinhas eu já teria alcançado minha independência financeira.