"Lucky"

Deitado no chão olho o teto, marrom e meio sujo. Só preciso de um. Fecho os olhos e a sensação é de estar subindo rapidamente, numa velocidade incrível. Agora tudo gira. Tudo gira e tudo é azul. Pareço voar no céu, mas vôo girando e o céu é somente azul. Tudo gira e tudo é azul. Não há o branco das nuvens. É um azul claro, iluminado. Parece céu, mas é azul, sem o vermelho-amarelado do sol.

A girar nesse espaço azul sinto-me invencível e capaz de realizar das coisas mais simples até mover montanhas, modificar órbitas de planetas. Sinto-me perfeito, completo. Fecho novamente os olhos, imagens e mais imagens passam incessantemente por meus olhos. Imagens desconexas. Procuro um sentido que seja e não consigo achar. Elas continuam a vir e a passar.

Sinto uma gota de suor escorrer da minha testa. Tento abrir os olhos. Imagens. Não consigo, está difícil. Finalmente os abro. Está escuro.

O azul sumiu. Está tudo preto. A escuridão aumenta, parece estar tentando me tragar. Balanço a cabeça de um lado para o outro. Escuro. O suor aumenta, não é mais uma gota, escorre muito mais. Minha camisa está encharcada de um suor frio que desce pela espinha, como gelo. Continuo a olhar para um lado e para o outro, sinto-me nervoso, certo desespero.

A escuridão já me tragou, procuro ao redor e não acho ninguém. Estou sozinho. Mais uma vez tento procurar, não acho. Mais uma vez estou sozinho. As pupilas se dilatam, ninguém, nem nada. Sozinho.

De repente o teto sujo e marrom está de volta, mas o suor gélido continua. Olho ao redor, aqui também estou sozinho. Não há nada nem ninguém além de mim. Aqui, deitado. Nada. Ninguém, minha viagem pelo azul acabou, também não há mais a escuridão, aos poucos o desespero começa a passar. Invencível não me sinto mais, nem um pouco. Continuo sozinho.








Radiohead - "Lucky"

I'm on a roll, I'm on a roll
This time, I feel my luck could change
Kill me Sarah, kill me again with love
It's gonna be a glorious day


Pull me out of the aircrash
Pull me out of the lake
I'm your superhero
We are standing on the edge

The Head of State has called for me by name
But I don't have time for him
It's gonna be a glorious day
I feel my luck could change


Pull me out of the aircrash
Pull me out of the lake
I'm your superhero
We are standing on the edge

Memórias póstumas de uma lembrança

Que saudades de tu! Acordei hoje com essa sensação. Sensação que algo estava diferente. O sol brilhava de uma forma bonita porem nostalgica. A onda da praia recordava seus recortes em forma de ressaca.O calçadão da praia de Botafogo não olhava para o Cristo. Do lado de casa percorria memórias. Lembranças de uma conversa que um dia tive contigo. Cada detalhe e cada silaba ecoa no vento que sopra em direção a zona norte. Queria te mostrar essas bandas. Pena que o tempo chega sem avisar que um dia o metal pode oxidar. Tu eras naquele momento um retrato do imponente que imaginavas. Mas para mim você ainda era aquele senhor alto e falador que me ajudava a comer e brincava com o bigode de leite que ficava em minha face. Presença confiante e robusta. Homem de muitas palavras e canções. O cordel que você escrevia eu fico a desejar. Relatos de romances, lutas, infãncia, vida...esses casos pra sempre vou guardar. Aquela cadeira que tu curtia sentar esta reservada. Seu jeito ainda está lá. Nesse dia querido avô queria cantar contigo o que Luiz Gonzaga sempre entoava quando você escutava. Mas faz o seguinte, canta ai com o rei do baião que daqui da terra eu danço pra ti. Que saudades de tu!