Almoço de domingo

A mãe resolveu caprichar no almoço de domingo. Juntamente com a avó, preparou um verdadeiro banquete: lasanha de frango, “escondidinho” de carne moída e salpicão. Enquanto elas ficavam na cozinha colocando a mão na massa, o restante da família encontrava-se na sala assistindo TV e lendo o jornal, ou pelo menos tentando. O cheiro gostoso que vinha da cozinha dificultava a concentração em qualquer coisa que não fosse comestível. Todos estavam morrendo de fome e já se podia ouvir o ronco das barrigas.
Mas ai o chegou a hora do almoço. O chamado da avó, “Tá na mesa pessoal!”, animou a galera que foi lavar as mãos e depois diretamente para a mesa. A mesa estava com formação completa: pai, mãe. avó, filhos e agregados. Todos se sentaram e foi dada a largada para o banquete.
O filho mais novo começou atacando a lasanha. A filha do meio preferiu o “escondidinho”. O pai e o mais velho começaram com uma taça de vinho. A nora, a mulher do mais velho, acompanhou a sogra e a avó e se serviu do salpicão. Entre um bocado e outro a mãe e a avó eram bombardeadas com inúmeros elogios. Todos se esbaldaram e o almoço foi um sucesso total.
Após o último pedaço de lasanha e a última taça de vinho, todos na mesa pareciam exaustos e satisfeitíssimos. Ai a mãe resolveu anunciar a grande surpresa. Ela havia feito um delicioso sorvete caseiro de baunilha. Sorvete! Todos ficaram eufóricos. Quem antes estava satisfeito e não agüentava mais comer rapidamente arrumou um espaço para a sobremesa.
Depois de anunciar a surpresa, a mãe esboçou levantar para ir buscar o pote de sorvete. A avó disse para ela não se preocupar e que ela se encarregava de buscar a sobremesa. A filha não deixou que elas se levantasse e foi logo fazendo discurso:
-Nada disso! Vocês fizeram o almoço. A gente providencia a sobremesa.
O mais velho não gostou nada de ser incluído no “a gente” e sentenciou que a tarefa deveria ser executada pela a irmã faladeira. Ela por sua vez recusou a tarefa e repassou para o irmão caçula. O caçula acuado, sem ter opções, se recusou e o domingo tranqüilo em família virou uma grande discussão.
Enquanto os irmãos decidiam quem teria a difícil missão de ir até a cozinha, abri a geladeira e pegar o pote de sorvete, o pai se divertia com aquela confusão toda. A mãe e a avó também se divertiam, mas ao mesmo tempo queriam acabar com aquela história toda. A nora, que até então não havia se manifestado, resolveu dar uma sugestão:
- Vamos decidir no “zerinho ou um”?
-Boa idéia, mas você também vai participar-disse a filha.
A inclusão da mulher no “zerinho ou um’ não agradou o mais velho. Ele então resolveu armar para que a irmã saísse perdedora.
Juntamente com sua mulher eles sempre botavam “zero”, enquanto que seus irmãos insistiam em botar “um”. O caçula percebeu que o empate iria permanecer por muito tempo e resolveu mudar de lado. Eles jogaram de novo e dessa vez só a filha colocou “um”.
Furiosa e se sentindo traída ela se recusou a ir buscar o sorvete. Procurou apoio em sua mãe, se fazendo de injustiçada, mas não teve jeito. Ela tinha aceitado decidir no jogo e a decisão havia sido feita.
Com cara de poucos amigos lá foi ela na geladeira buscar o sorvete. Quando retornou, havia esquecido de pegar os potes e as colheres de sobremesa. Mais revoltada ainda, ela se negou a ir buscar. No entanto acabou cedendo. O olhar de reprovação de seu pai fez com quem ela fosse buscar os potes
Mais revoltada ainda, ela fez pirraça e se recusou a comer o sorvete. Sentada na mesa, a filha ficou de cara feia enquanto todos se deliciavam com o delicioso sorvete caseiro de baunilha. Ela estava louca de vontade, mas não iria dar o braço a torcer. O orgulho estava em jogo.O almoço finalmente terminou e a filha ficou sem sobremesa.
Depois de tirar um bom cohilo depois do almoço, o pai resolveu tomar um pouco mais de sorvete enquanto assistia o jogo de futebol na Globo. Para sua surpresa, quando foi abrir a geladeira, o pote encontrava-se vazio. Enquanto ele voltava para seu quarto frustrado, a filha, escondida no quartinho da empregada, saboreava o sorvete de baunilha.